22 de abr. de 2016

Nó direito e o Mario Marcio Verissimo

Ainda estou sob o impacto do falecimento do Mario Márcio Veríssimo. Ouvi, vi e experienciei vários comentários sobre ele e, confesso, não esperava nada diferente. Ele deixou marcas. Marca de alegria, paixão pulsante, paternidade envolvente e vida, muita vida. 
É impressionante perceber como a morte é uma agressão à vida e como a vida insiste em gritar presente mesmo em momentos como estes. Não nascemos para a morte mas somos escravos dela pela condição de pecadores. Mario também deixou marcas em mim. Não dessas experiências que quase entronizam as pessoas com os anjos. 
Marca de verdade é feita com história de dor. Hoje esta marca é uma cicatriz. Não é ferida aberta mas a marca está aqui para denunciar a presença dele e a restauração divina. Nos desentendemos feio. Creio que foi a maior tensão que vivi no espaço eclesiástico. Não foram poucos dias sem conseguir cantar. Gritamos um com o outro, nos ofendemos e, pela instrumentalidade do pastor Novaes, nos encontramos para 'colocar as cartas sobre a mesa'. O encontro foi feio. Saiu faísca pra todo lado. Saí daquele encontro com 'um bico'... Aí, depois de mais uma noite sem sono, comecei a perceber que estávamos discutindo, brigando, quase nos atracando fisicamente e estávamos com o mesmo objetivo. E, mais do que isso, percebi que a gente só briga porque se importa. O que nos incomoda é, de alguma forma, algo nos afeta. O que ignoramos não nos afeta. Tomar consciência disso me fez perceber que o admirava. Antes desse 'entrevero' conseguíamos conversar sobre o desenvolvimento dos meninos, sobre o mistério de ser pai, sobre a administração da saúde diante de doença crônica e até, do por incrível que pareça, sobre futebol. E isto não era nada simples. Eu torcedor do Flamengo e ele, como todo mundo sabe, apaixonado vascaíno. Lembrei disso tudo e percebi que, no fundo, queríamos investir no fortalecimento das famílias, cada um do seu jeito, cada qual sob seu ponto de vista mas os dois com o mesmo intento. 
Naquela noite eu consegui orar. Orar por mim, agradecer pelo Mario e ter coragem de perdoar, abrir mão (isso é complicado...) e pedir perdão. Comecei a perceber que tínhamos muito mais semelhanças do que diferenças. Fiquei mais leve quando falei com ele. Ele, sempre muito verdadeiro, não aceitou as desculpas nem quis falar comigo. Aí vi, de forma muito explicita, que 'passei da conta'. Em nome do zelo, da doutrina, da tradição passei por cima. Passei por cima de um irmão e Deus nunca, nunca me estimulou a fazer isso. Não insisti. Fiquei quietinho e deixei o tempo passar.
Eu não tinha mais problema para orar, nem para cantar mas, de alguma forma, o Mario sempre estava ali em minhas orações. Num domingo, nem sei qual, ele falou comigo de forma bem fria: 'e aí, beleza?" Respondi que não, e emendei logo que não tinha raiva dele. O tempo passou, deixei a coordenadoria da família por dois anos e, quando fui convidado à voltar, falei com ele antes. Perguntei o que ele achava da indicação, ainda disse que necessitava dele e que também desejava ter sua presença, sua paixão e sua alegria contagiante como parceiro neste ministério. Ele, prontamente se dispôs a ajudar.
Hoje, chorando no culto fúnebre e cantando 'você pode ter a casa repleta de amigos, paredes e pisos cobertos de bens...,mas nunca terá a paz que existe lá dentro que não se encontra pra poder comprar, porque esta paz só tem a pessoa que se encontra com Cristo", louvei a Deus pela vida do Mario Márcio, pelo pastor Novaes e, especialmente porque Deus me ensinou muito, muito mesmo através da vida do Mario. Pessoas valem mais. Pessoas são maiores e mais importantes que instituições. Nenhum zelo justifica a falta de amor. Louvei a Deus porque não ficou ferida aberta entre nós. Louvo a Deus porque tive oportunidade de atar um laço e desfazer um nó. A cicatriz está aqui mas ela serve para eu lembrar dele e lembrar que o Senhor me ensinou a perdoar porque eu também recebi perdão.



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