8 de jun. de 2011

Eclesiastes - O Pregador – Classe Samuel 2t/2011
Recapitulação e Capítulo 4 – Injustiça


"A injustiça em qualquer lugar
é uma ameaça à justiça em todo lugar."
(Martin Luther King)

Estamos estudando o livro da reflexão. O texto da revelação que mais se aproxima da filosofia. O pregador – O ‘kohrelet’ – está analisando tudo que passa debaixo do sol. Não há, à primeira vista, uma olhada para o que está além do visível, do palpável, do que pode ser observado do metafísico.
Recordemos: Tudo que está debaixo do sol é fútil, vazio, névoa da nada, bola de sabão, vaidade, correr atrás do vento... e mais, ‘vaidade da vaidades’, ou seja, como vimos superlativo hebraico = vaidadíssima! (Ec 1.1)
Depois o pensador vai dizer que tudo é monótono, repetitivo, tedioso (Ec 1.4-10)
Não fique triste, mesmo observando o que acontece ‘debaixo do sol’ nosso querido Kohrelet nos deixa uma brecha de esperança. “Não há, contudo, lembrança por parte das gerações passadas, assim como não haverá lembrança por parte das gerações futuras do que agora ocorre” (Ec 1.11). Por que esperança? Ora caro leitor, você e eu construímos a história de nossa geração, por mais previsível e tedioso que sejam os processos da natureza, nosso desafio é entender o que dá pra fazer com o que temos nas mãos. É como saborear uma fruta que nunca foi experimentada e descobrir nela o que o Kohrelet procura: o sentido da vida. E como ele vai procurar esse sentido?
Aplicando o coração e mente para pesquisar e inquirir sobre tudo que já foi realizado sob os céus - ou debaixo do sol - (Ec 11.13).
Então a sabedoria não está na relação do que é névoa de nada, como diz o verso 2? Engano. Até a sabedoria e o conhecimento, ou a insensatez e a loucura estão no mesmo nível da vaidade das vaidades (Ec 1.17). Esta é a pesada tarefa que Deus impôs aos homens: pensar, pensar, refletir...(Ec 1.14).
Agora o pensador vai experimentar de tudo. É isso mesmo, pense em tudo que existe no mundo ligado à satisfação, prazer, realização. Tudo que você gosta de fazer. Aliás, quais são tuas preferências em relação a este mundo (Ec 2)?
Alegria? Eu só quero é ser feliz... (2.1-2)
Bebida? Ele diz: bebi todas... (2.3)
Grandes obras? Fiz de tudo... (2.4-7)
Dinheiro? Fui podre de rico... (2.8)
Artes? Sou o suprassumo da história da arte... (2.8)
Poder? Fala sério ‘eu sou o cara’...(2.9)
E o que adiantou tudo isso? Nada. Tudo inútil, fútil, vão...(2.11-14)
Ser sábio ou tolo é a mesma coisa (2.15-21). O sábio vai construir tudo e deixar para o próximo que, como o tolo, não fez nada para possuir. O resultado: frustração (2.21-23). Frustrante? Calma. Mais uma vez o pensador deixa brecha, mesmo olhando debaixo do sol ele diz: “compreendi que só por Deus pode ser concedido...opa! Dádiva! Viver a vida como uma dádiva. O que tenho que posso desfrutar? “A melhor coisa que alguém pode fazer é comer, beber e se divertir com o dinheiro que ganhou” (Ec 2.25).
Daí surge o que estudamos no encontro passado: Há tempo para todo propósito debaixo do sol. Tudo o Senhor, dadivoso, fez formoso no seu tempo apropriado. ”Carpe diem”...tá lembrado? (Ec 3.1-14)
Até aqui a recapitulação!
Mas cuidado com esse papo de aproveite o dia, viver intensamente! Hoje viver intensamente é chegar ao limite da loucura! Viver intensamente é ...


Veja o vídeo “Muito Além do Papel de Um Jornal” – on line, on time, full time, você faz acontecer!


Daí surge a injustiça. O levar vantagem em tudo. O mundo do eu sozinho. No lugar onde deviam estar a justiça e o direito, o que a gente encontra é maldade (Ec 3.16) – veja ainda o vídeo desta semana de Amanda Gurgel em seu depoimento sobre a educação e a angústia de um professor em sala de aula, ou ainda do enfrentamento dos bombeiros com o BOPE aqui em nossa cidade.


Mesmo observando tudo que existe ‘debaixo do sol’, o Kohrelet vai chegar à conclusão que Deus é quem vai julgar a todos e é Ele quem tem o controle sobre todas as coisas (Ec 3.17 e 18). E daí? Deixou de observar o que acontece debaixo do sol? Eu perguntaria ao querido pensador? Não, ele me responderia. O que ele apresenta como conclusão é patético. Vendo a injustiça neste mundo ele diz: homens e animais estão no mesmo nível. Veja você mesmo se não é aviltante ler ou ouvir essas palavras:
Disse eu no meu coração,
quanto a condição dos filhos dos homens, que Deus os provaria,
para que assim pudessem ver que são em si mesmos como os animais.
Porque o que sucede aos filhos dos homens, isso mesmo também
sucede aos animais, e lhes sucede a mesma coisa;
como morre um, assim morre o outro; e todos têm o mesmo fôlego,
e a vantagem dos homens sobre os animais não é nenhuma,
porque todos são vaidade. Todos vão para um lugar;
todos foram feitos do pó, e todos voltarão ao pó.
Quem sabe que o fôlego do homem vai para cima,
e que o fôlego dos animais vai para baixo da terra? (Ec 3.19 a 21)

Veja mais uma brecha, mais uma porta de saída para nosso consolo e reflexão:
“Assim, eu compreendi que não há nada melhor que a gente ter prazer no trabalho. Essa é nossa recompensa. Pois como é que podemos saber o que vai acontecer depois da morte?”

Capítulo 4
Mais uma vez ele se volta para a injustiça. (Ec 4.1)
Maltratados, sem ajuda dos poderosos. O poder está com o opressor.
Quem quer ter sucesso a qualquer preço é estimulado pela inveja.


Variações sobre a Inveja e o Poder
“O poder é, em grande parte, alimentado pela inveja. Inveja é o vício pelo qual a pessoa que o tem - e quase todos os seres humanos o ostentam - sente-se infeliz com a felicidade alheia.
Se perguntar a alguém, se é invejoso, sua primeira reação é afirmar que não é, mas à medida em que se auto-analisa, com sinceridade, verificará que, muitas vezes, sentiu-se infeliz por ver a felicidade alheia que não conseguiu para si.
Entre os guerreiros árabes, na luta que travavam pelo poder, costumava-se dizer que a grande felicidade era morrer depois do inimigo.
Carl Schmitt, ao escrever que a política é a ciência que opõe o amigo ao inimigo, desventrou a realidade do poder em que servir ao próximo é menos importante do que se servir dele, e a vitória do inimigo dói mais pelo êxito não ter sido seu.
Não apenas na política - a inveja, que leva a buscar sempre defeitos nos adversários para desmoralizá-los - mas em qualquer manifestação cultural, científica ou esportiva em que o poder esteja envolvido, esse vício é o senhor da festa.
No futebol - e também em outros esportes coletivos - quantas vezes se torce menos pela vitória do próprio time ou do melhor em campo, e mais pela derrota daquele que é o adversário mais constante do time do coração, qualquer que seja ele, mesmo que seja de outro país.
A maledicência é um dos frutos preferidos, principalmente na política. Quem busca o poder, lança suas sementes para conseguir a desmoralização do adversário que esteja nele investido no momento, ou que pretenda obtê-lo. Tudo é válido, inclusive a calúnia e outros procedimentos menos éticos, para que se consiga alijar o inimigo do posto que se deseja.
Não sem razão, em todos os períodos históricos e espaços geográficos, a luta política é malcheirosa, regada abundantemente pela inveja. Esse vício não permite que se elogie o que o adversário faz de bom, pois isso enfraqueceria a possibilidade de se suplantá-lo na disputa. A inveja, por fim, leva o aspirante do poder político, universitário, acadêmico, esportista ou de qualquer outra natureza, a viver uma permanente insatisfação, seja quando o obtém, porque passa a ter que defendê-lo contra quem o almeja, seja quando vê frustrada sua ambição de consegui-lo, pela infelicidade de assistir ao êxito dos que estão usufruindo daquilo que poderia ser seu.
Na verdade, entre os sete vícios capitais, que atormentam o ser humano, a inveja é a raiz de muitos deles.
Lutar contra ela no foro íntimo não é fácil, pois todos nós, em algumas circunstâncias, podemos também render-nos a seu império. É, porém, fundamental, visto que só se pode enfrentar a vida com serenidade, vivendo as vitórias e as decepções. É importante ter presente que, no curso de uma existência, nada valemos. O interregno de uma vida só valerá se conseguirmos semear nossa passagem, por mais humilde que seja, auxiliando o próximo, alegrando-nos com suas vitórias, entristecendo-nos com suas derrotas.
É insensato nos darmos muito valor, neste imenso universo em que nada somos.


Ives Gandra Martins  - Variações sobre a Inveja e o Poder – artigo de jornal Mundo Lusíada.
Professor Emérito das Universidades Mackenzie, UNIFMU, UNIFIEO, UNIP e das Escolas de Comando e Estado Maior do Exército-ECEME e Superior de Guerra-ESG, Presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio e do Centro de Extensão Universitária - CEU


É a velha máxima: tua derrota, minha alegria. Não importa eu perder, o importante é meu cunhado não ganhar! (Ec 4.4-5)


Epa! O papo era injustiça e sobre a injustiça social-institucional. O sábio deixa sob o julgamento divino e quando fala da injusiça nas camadas menores ele se volta para a inveja, para o particular? O que é isso pensador? Vou te dizer o que leio com isso: ensinamento.
Ele percebeu que não adianta observar o que se passa debaixo do sol sem mudar o seu comportamento, sem encontrar saída, sem achar sentido para a vida. Daí então ele diz:


Mais satisfação do que ambição
“Melhor ter pouco numa das mãos, com paz de espírito, do que estar sempre com as mãos cheias de trabalho, tentando pegar o vento” (Ec 4.6). Aqui volto ao Pr. Ed. René, no livro utilizado para essas lições. + Satisfação - Contentamento, alegria, deleite, aprazimento.
- Ambição - Desejo veemente de alcançar aquilo que valoriza os bens materiais ou o amor-próprio (poder, glória, riqueza, posição social, etc).
Opa! Aqui vejo uma ponte com o ensino de Jesus. Azar do Kohrelet que não sabia o que já sabemos agora e que foi ensinado ‘debaixo do sol’, lá na Galileia antiga: (Mateus 5 a 7 e Lucas 6: 20-49 – no Sermão do Monte). Nós valemos mais do que passarinhos, a vida é mais do que mantimento, mais do que vestido, mais do que poder...não é Salomão.
Melhor é a parceria do que a solidão!


Ouça Aline Barros (só no Youtube) e a música ‘O Cordão de Três Dobras’.

“Ninguém pode ser feliz sozinho...” quem disse isso? (Ec 4.7)
“Fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho.” Tom Jobim
Esse texto tão usado, é verdade com alguma propriedade, para relacionamentos conjugais. Creio que vale para outras parcerias. Exectuando-se, é claro, esse papo de ‘dormir junto para se aquentar’... e ele termina usando o exemplo do jovem pobre ajuizado em contraste com o velho rei sem juizo. Que príncipio vemos nesta historieta? Seja humilde, sem marra, ouça os outros com atenção porque a glória é vã.
O ser humano é um ser de relacionamentos...foi criado para se relacionar. Pense nisso.


Veja no Youtube: Gal Costa e Wave de Tom Jobim (desculpe, não aguentei).


E para terminar como ‘crente’, ouça João Alexandre em Bem Melhor É Serem Dois do Que Um:



Bibliografia:
O Livro Mais Mal-humorado da Bíblia
Editora: Mundo Cristão 

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