5 de jan. de 2016

Na Primeira Pessoa - Noé (parte 2)


Como havia dito, fui para casa e detalhei tudo, tudinho para a minha esposa e meus filhos. Antes que eles tivessem qualquer reação contrária, avisei logo que o plano divino alcançava também cada uma de minhas noras.
Daquele dia em diante trabalhamos, mas trabalhamos muito para cumprir tudo que o Criador havia mandado. A cada finalzinho do dia, quando a noite se aproximava, conferíamos o andamento da obra e ainda planejávamos juntos o dia seguinte. Cada um de nós tinha sua tarefa e, vez por outra, revezávamos para que o trabalho não parasse e nós continuássemos focados na tarefa. 
Quero confessar um fragmento de orgulho toda vez que lembro das palavras do Senhor:
...com você estabelecerei a minha aliança, e você entrará na arca com seus filhos, sua mulher e as mulheres de seus filhos (Gn 6.18). 
Como esquecer dessas palavras? Acordava a cada dia, sem nenhum sinal de chuva. E de que valia isso enquanto construíamos a arca? O que deu sentido e motivação a cada dia, a cada manhã, foi a promessa que o Senhor fez. Quando alguém pensava em desanimar eu dizia: Vamos! Coragem! Deus escolheu a nossa família! Deus escolheu você para reconstruir o mundo, eu repetia. Sabe de uma coisa, a gente enfrenta qualquer dificuldade quando tem convicção e fé. Você já deve ter pensado que a 'fama' de 'cabeça-dura' não ficou apenas comigo. Se pensou, acertou. Todos os nossos vizinhos começaram a nos chamar de loucos. Não entendiam nada do 'caixote'. Eles pensavam que estávamos construindo uma grande casa esquisita. De certa maneira, eles estavam certos. Era a casa que Deus havia planejado para nos preservar. Eu e minha família fizemos tudo exatamente como o Senhor havia ordenado.
Num desses momentos de avaliação, num fim de tarde, o Senhor apareceu novamente e disse:
"Entre na arca você e sua família!" 
Esta ordem era a 'senha' para conduzirmos os animais para dentro da grande caixa de madeira. Foram sete dias, já morando na arca, acomodando cada bicho em seu lugar, acostumando com a nova residência até que a chuva começou.
Chuva! Vou te dizer uma coisa e não é brincadeira não. Você não tem ideia do que é chuva. Água pra todos os lados. Aguá vindo do céu, água brotando da terra aos borbotões. Muita gritaria misturada com árvore quebrando, barro descendo, raios, trovões e muita chuva, muita chuva caindo.
Quarenta dias durou o Dilúvio sobre a terra, e as águas aumentaram e elevaram a arca acima da terra. As águas prevaleceram, aumentando muito sobre a terra, e a arca flutuava na superfície das águas. As águas dominavam cada vez mais a terra, e foram cobertas todas as altas montanhas debaixo do céu. As águas subiram até quase sete metros acima das montanhas.
Todos os seres vivos que se movem sobre a terra pereceram: aves, rebanhos domésticos, animais selvagens, todas as pequenas criaturas que povoam a terra e toda a humanidade. Tudo o que havia em terra seca e tinha nas narinas o fôlego de vida morreu.Todos os seres vivos foram exterminados da face da terra; tanto os homens, como os animais grandes, os animais pequenos que se movem rente ao chão e as aves do céu foram exterminados da terra. Só restaram Noé e aqueles que com ele estavam na arca. E as águas prevaleceram sobre a terra cento e cinqüenta dias. (Gn 7:17-24)
Você dorme e está chovendo, acorda e continua chovendo. De manhã chuva, à tarde mais chuva. Em alguns momentos achamos que não existia mundo e que tudo que havia sobrado era aquela arca. A arca era nosso mundo. E a arca estava cada vez menor. Mas houve um dia em que acordamos sem o barulho da chuva. Tudo que ouvíamos era o som das ondas batendo na arca. Dava para perceber as frestas dos raios solares dentro do 'caixote' e o balanço da arca.


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